Por Miguel Nicolaevsky, Israel

Dimona, encravada no coração do deserto de Negev, a cerca de 36 quilômetros ao sudeste de Be’er Sheva, talvez seja mais conhecida por seu reator nuclear envolto em mistério. No entanto, essa cidade do sul de Israel tem muito mais a oferecer — desde descobertas arqueológicas milenares até uma vibrante diversidade cultural que reflete a complexa tapeçaria social do país.

Raízes bíblicas, olhos no futuro

O nome da cidade remete a um passado remoto: “Dimona” aparece nas Escrituras Hebraicas, no Livro de Josué (15:21–22), como uma das cidades da tribo de Judá. Mas foi apenas em 1955 que o moderno assentamento foi fundado, com o objetivo de abrigar trabalhadores das Indústrias do Mar Morto e das minas de fosfato da região.

Elevada a cerca de 600 metros acima do nível do mar, Dimona foi planejada para aliviar as dificuldades do clima desértico com noites mais frescas. A cidade cresceu rápido — tanto que recebeu o status de município em 1969.

Mistérios sob a areia: achados arqueológicos reveladores

Mais do que uma cidade moderna, Dimona repousa sobre camadas de história humana que remontam a dezenas de milhares de anos. Arqueólogos descobriram ali o abrigo rochoso de Nahal Dimona 24, com vestígios datados de 50 a 60 mil anos atrás — um dos mais antigos da região árida do Negev.

Em escavações mais recentes, como as realizadas em 2005, cinco sítios da Idade do Bronze Intermediária foram identificados nas colinas ao norte da cidade, evidenciando contínuas ocupações humanas na região ao longo da história. Já em abril de 2025, uma operação da polícia israelense e da Autoridade de Antiguidades de Israel encontrou centenas de artefatos arqueológicos — incluindo moedas antigas, pontas de flechas e lâmpadas da Idade do Ferro — escondidos na casa de um morador local.

Gente de toda parte: o mosaico humano de Dimona

Com uma população de cerca de 35 mil habitantes em 2025, Dimona é a terceira maior cidade do Negev. Seus moradores são um retrato vivo da diversidade israelense: judeus de origem marroquina, imigrantes da ex-União Soviética e da Etiópia, além de um grupo único — os Hebreus Negros Israelitas.

Essa comunidade afro-americana chegou a Israel na década de 1960, reivindicando descendência das tribos bíblicas. Estabelecidos principalmente na “Vila da Paz”, vivem de forma comunitária e seguem tradições distintas, o que faz de Dimona um ponto singular no mapa multicultural do país.

Economia entre o pó do deserto e o brilho da indústria

Dimona abriga importantes polos industriais, com destaque para as fábricas têxteis, de porcelana e mineração. Mas é a presença do Centro de Pesquisa Nuclear do Negev, nas proximidades, que alimenta parte do imaginário popular — apesar da falta de detalhes oficiais sobre suas atividades.

Além disso, a cidade é conectada por ferrovia a Be’er Sheva, facilitando o transporte de pessoas e mercadorias, e servindo como um elo vital entre o interior e os grandes centros do país.

Um deserto que floresce

Apesar do clima árido, com verões escaldantes e pouca chuva, Dimona conseguiu se adaptar. Sua altitude oferece noites mais amenas, e os investimentos em infraestrutura e integração social tornaram a cidade um exemplo de como o deserto israelense pode florescer — tanto no sentido econômico quanto humano.

Com sua história bíblica, descobertas arqueológicas e comunidades únicas, Dimona é uma cidade que desafia estereótipos. No cruzamento entre o passado e o futuro, entre o antigo e o moderno, ela continua a escrever sua própria narrativa — feita de areia, sonhos e identidade.


Fontes:

  • Encyclopedia Britannica
  • Jewish Virtual Library
  • Israel Antiquities Authority
  • The Jerusalem Post
  • PaleoAnthropology Journal
  • World Population Review
  • Explanders.com

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